Pedro Hernandez
Morning Call - 25/03/2019
Uma tempestade perfeita combinando aversão a risco no exterior e tensões políticas internas com potencial de ameaçarem a reforma da Previdência desabou sobre o mercado doméstico na sexta-feira. Os dois fatores reunidos chegaram a levar o dólar a subir acima de R$ 3,91, ao maior nível desde dezembro do ano passado e a bolsa a perder mais de 3%, para o menor patamar desde o início de janeiro, abaixo dos 94.000 pontos. Os juros futuros dispararam e taxas mais longas chegaram fechar com mais de 30 pontos de alta. Aqui, o humor piorou ainda mais depois que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deixou a articulação política para aprovação da reforma, segundo líder do DEM, e sinalizou em entrevista à Folha que isso agora está nas mãos do governo. O presidente Jair Bolsonaro disse que vai conversar com ele sobre a Previdência, segundo o Estado. O dólar encerrou o dia perto da máxima (R$ 3,9065) e o Ibovespa na mínima, -3,10% aos 93.735 pontos.
Nos EUA, a busca pela segurança das treasuries de 10 anos gerou uma queda dos rendimentos tão forte que provocou a primeira inversão de curva desde 2007. A inversão costuma ser vista com um primeiro sinal de possível recessão nos EUA nos próximos 18 meses. O receio de desaceleração global elevou-se desde cedo com dados fracos de manufatura na Alemanha. As bolsas americanas também recuaram no mesmo embalo.
A semana começa refletindo o agravamento da crise política durante o fim de semana, após o presidente Bolsonaro retomar ataques à “velha política”, enquanto Maia acusou governo de ser um deserto de ideias. Dificuldades na convivência do governo com o Congresso geram críticas mesmo no partido do presidente. Presidente da Câmara e governador de SP defendem blindar a reforma e ministro Guedes, em aceno de alívio aos receios do mercado, mas trégua da crise depende de sinal claro de Bolsonaro, que se reúne com ministros hoje. A cautela também impera no exterior, embora perdas das bolsas hoje pareçam mais comedidas e o dólar recue contra algumas moedas. Após indicadores na sexta reforçarem receios de desaceleração, saem nos EUA dados de atividade de Chicago e Dallas. No Brasil, agenda na véspera da ata do Copom traz Focus, Caged, contas externas e IPC-S.
